Sobre a exposição
A primeira etapa do projeto e pesquisa Mãe Preta começou com o convite para a exposição coletiva Crossover, na Galeria Monique Paton, então situada na Rua do Rosário 38, centro do Rio de Janeiro, local muito próximo ao primeiro mercado de escravos instalado na cidade.
Uma das pinturas que adornam a porta da galeria e que retrata uma mulher carregando um bebê nas costas, tornou-se o ponto de partida da pesquisa. A pintura é uma cópia em pintura de um fragmento da litogravura "Negras do Rio do Janeiro”, do artista alemão Johann Moritz Rugendas, e fez parte no livro Voyage pittoresque dans le Brésil, publicado na França em forma de fascículos entre 1827 e 1835.
Inspiradas pela maternidade recente de ambas, as artistas reinterpretaram a pintura desta mãe negra através da fotografia como uma reflexão da história da maternidade na memória urbana do Rio de Janeiro, em meio às então recentes descobertas de marcos arquitetônicos e achados arqueológicos da escravidão na região central da cidade ao decorrer das obras para as Olímpiadas de 2016.
O nome do trabalho, "Mãe Preta", era o nome dado às mulheres escravizadas cujo trabalho era ser amas-de-leite e cuidadoras dos filhos dos senhores brancos na época da escravidão, frenquentemente em detrimento aos cuidados dos seus próprios filhos. Nas obras, as artistas reencenam a pose da mãe com o filho nas costas e os demais personagens encontrados na porta com um modelo fotográfico masculino. Nelas, foram simuladas as vestimentas e as poses das personagens como forma de pôr em questão da representação da figura materna nas imagens feitas pelo olhar masculino e estrangeiro na época da escravidão em relação a debates atuais sobre feminismo, racismo, sexualidade, e gênero,